O humor e o fantástico não parecem combinar bem, a julgar pelos efeitos (aparentemente) opostos que provocam no leitor: o medo e o riso, o mal-estar e a diversão. No entanto, é evidente que o fantástico e o humor partilham um objetivo comum, manifestado de formas diferentes: o questionamento da ordem do real e dos mecanismos que o explicam/constroem. Como adverte Anna Boccuti, "o mal-estar e o riso representam dois efeitos especulares, resultado de uma mesma estratégia textual que visa desorientar o leitor, fazê-lo duvidar das suas convicções sobre o mundo conhecido, mostrando o seu lado mais sombrio, iluminando as suas facetas mais ridículas".