Seminário
Sala de investigadores CEHUM, Ed. 5, UMinho
Contra-estéticas: repensando vulnerabilidades e gramáticas a partir da literatura afrodescendente portuguesa
Por Nicola Biasio (Univ. Bolonha)
Sinopse
O colonialismo ocidental não foi apenas um sistema de extração e exploração de povos e territórios, mas também um projeto estético fundamentado em estereótipos que desumanizaram e apagaram as subjetividades, histórias e corpos dos colonizados. No cerne do arquivo imperial está a representação
das populações colonizadas como inerentemente vulneráveis e expostas à violência, frequentemente reduzidas a “cenas de subjugação”. Esse arquivo nega-lhes qualquer possibilidade de agência e capacidade de autorrepresentação. Essas ideologias estéticas refletem uma gramática racializada mais
ampla dentro da modernidade, perpetuando valores coloniais na literatura portuguesa tradicional e na memória social. Este seminário propõe discutir como a literatura afrodescendente contemporânea em Portugal questiona os regimes raciais de representação no cânone literário nacional. A vulnerabilidade será um eixo central da discussão, e buscaremos compreender como certas obras desta literatura lidam com a vulnerabilidade corporal, enunciativa e memorial como um espaço de “apropriação indébita” frente ao arquivo colonial. A partir de teorias feministas negras e decoloniais, analisaremos de que modo a vulnerabilidade pode ser ressignificada fora dos enquadramentos coloniais, tornando-se um fundamento para expressões subversivas contra os atuais regimes necropolíticos de representação. Ao desafiar a estética moderna antinegra, essa vertente literária estabelece “gramáticas decoloniais” que afirmam a agência, a interioridade e a subjetividade das personagens negras na literatura portuguesa, oferecendo formas alternativas de autorrepresentação que desafiam e subvertem a historicidade e o poder colonial.
Bio
Nicola Biasio é doutorando no Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas Modernas da Universidade de Bolonha e desenvolveu a sua pesquisa sobre a literatura afrodescendente contemporânea em Portugal no âmbito das teorias feministas da vulnerabilidade. Os seus interesses de pesquisa incluem também a literatura queer no final do período colonial em Moçambique, as teorias queer no Brasil, a ecocrítica e os critical animal studies nas literaturas em língua portuguesa. Faz parte da equipe editorial da editora Capovolte e traduziu em italiano obras de Djamila Ribeiro e Yara Nakahanda Monteiro.
Os rabiscos na parede: A escrita como direito de (re)existir em Buchi Emecheta e Djaimilia Pereira de Almeida Por Tânia Ardito (aluna Doutoramento em Modernidades Comparadas)
Sinopse
Percorrendo as obras de Buchi Emecheta e Djaimilia Pereira de Almeida encontramos a reinvindicação da escrita como forma de (re) existência manifestada em diversas formas.
Nos caminhos diaspóricos de ambas autoras, as palavras trilham diversos meios e destinos, sejam elas cartas, rabiscos na parede ou mesmo um manuscrito (re)escrito após completa destruição.
Durante a jornada, as obras da autora nigeriana e da autora portuguesa ganham significados identitários de luta e resistência.